José J. Veiga, um mestre do simples
Brasigóis Felício
Ver uma entrevista de José J. Veiga no programa Tevê Escola – comoveu-me ouvir a voz do velho amigo, e vê-lo simples como sempre foi. Este goiano cidadão o mundo, nascido em uma fazenda entre Corumbá e Pirenópolis não gostava de nada solene ou adornado de empáfia. Ele mesmo era a simplicidade em pessoa – seu riso era solo, largado no ar, como que repicado – e por várias vezes ele riu assim, enquanto falava sobre sua vida e sua obra a um público atento e devoto de sua grande arte. Tenho dele uma carta em que ironiza minha timidez goiana. Explico: estando de férias, no Rio de Janeiro, estive à porta de seu prédio, na Glória, com a intenção de visitá-lo, e não tive coragem de entrar. “Logo você, Brasigóis, um demolidor de mitos”, disse-me ele, em carta, quando soube da bem intencionada e malograda visita.
E sua entrevista Veiga conta que conheceu João Guimarães Rosa por causa da paixão que ambos tinham por criar gatos. A dele, Veiga, era tão visceral que chegou a ter vinte e um desses animais, em seu apartamento. Relatou o escritor, em sua entrevista, que quando o gato de Rosa adoeceu, indo sua mulher procurar o veterinário, este, que estava de viagem, não pode atendê-la, mas aconselhou-a: “Procure dona ..., que ela entende mais de gatos do que eu”. Depois de curado o gato de mestre Rosa, teve inicio uma amizade entre os dois escritores, que adotaram um sistema. Dois domingos a cada mês um almoçava na residência do outro. Certo dia, ao folhear um livro, sobre a escrivaninha de Rosa, Veiga comentou: “Este livro aqui pode até ser bom, mas tem um defeito: tem prefácio”. Ao que Guimarães Rosa, abrindo um sorriso, abriu os braços e disse: Vem cá e dê-me um abraço! Não me diga que você também não gosta de prefácios! Eu estava com medo de você me medir, e eu ter que negar”. Ocorre que Veiga também estava com medo de Rosa oferecer-se para prefaciar o seu livro (risos).
José Jacinto Veiga, em entrevista a mim concedida, para a série Vultos goianos, saiu de Goiás quase expulso, por não ter conseguido nenhuma espécie de emprego (e agradeça a Deus, pois foi salvo por isto). Sobre porque rejeitava entrar na Academia de Letras, disse que não o fazia por achar ridículo que têm de vestir os imortais: “Já pensaram como eu ia ficar horrível vestido com aquela farda? O Viana Moog, que chegava a ser quase um galã, com a farda acadêmica ficou um horror. Com aquela espada do lado, então, não dá... (risos).
O estranhamento e o maravilhoso sempre estiveram presentes na obra. Nele tudo é opaco; “Toda obra de arte é o testemunho de seu fracasso. Porque a obra realizada nunca é igual à idealizada pelo artista. Temos sempre que fazer por menos, e isto representa sofrimento. Sempre que estava a sofrer escrevendo um livro pensava: que vida besta, buscar eu mesmo essa aflição. Prometia nunca mais voltar a me meter naquilo, mas passava um tempo, começava a me dar uma angústia, fica irritadiço, e começava obra nova, e novo sofrimento. Sofre, seu masoquista!”. A humanidade agradece ao mestre universal goiano por seus admiráveis “fracassos” que resultaram de sua luta com o reino das palavras. Por haver haver se resignado a sofrer tanto construiu ele uma obra literária de mensagem universal.
Caro poeta Brasigois, gostei bastante da sua página, principalmente desta postagem que fala do nosso querido JJ Veiga.
ResponderExcluirMeus Parabéns.
PS.: Tomei a liberdade de convidar alguns amigos para seguir seu blog.